"Ana sentia-se animada, com vontade de viver. Sabia que por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. Ali deitada no chão a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino. Ficara louca de pesar no dia em que deixara Sorocaba para vir morar no Continente. Vezes sem conta tinha chorado de tristeza e de saudade naqueles cafundós. Vivia com o medo no coração, sem nenhuma esperança de dias melhores, sem a menor alegria, trabalhando como uma negra, e passando frio e desconforto... Tudo isso por quê? Porque era a sua sina. Mas uma pessoa pode lutar contra a sorte que tem. Pode e deve. E agora ela tinha enterrado o pai e o irmão e ali estava, sem casa, sem amigos, sem ilusões, sem nada, mas teimando em viver. Sim, era pura teimosia. Chamava-se Ana Terra. Tinha herdado do pai o gênio de mula."
O Continente, Érico Veríssimo
o importante é sempre " teimar em viver". Érico, meu eterno primeiro amor!
ResponderExcluirEsse trecho é maravilhoso! Dá vontade de ler o livro todo. Você já postou ele, Gabi, mas sob o título "Ana", lembra? Haha! Valeu a pena ler ele de novo. Muito bom! Depois quero mesmo ler esse livro.
ResponderExcluirQuando eu li bem que reconheci esse trecho, sabia que ele já tinha sido postado aqui antes! É maravilhoso, realmente dá vontade de ler tudo!
ResponderExcluirpoxa, me esqueciiiiiiiii hahahah bom, é bom demais, vale a pena ne?
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