sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Clarice

Foto de Érico Veríssimo

"Em 1953 meu pai foi convidado a dirigir o Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, ligada à Organização dos Estados Americanos. Fomos para Washington, uma aborrecida cidade burocrática, no começo da era Eisenhower. O diplomata Maury Gurgel Valente e sua mulher Clarice estavam lá com os dois filhos, Pedro e Paulo, e foram os primeiros brasileiros a dar boas-vindas aos recém-chegados. Eles seriam os melhores amigos dos meus pais nos quatro anos que ficamos em Washington. Clarice e minha mãe, que não poderiam ter personalidades mais diferentes, tornaram-se amigas de infância. E sem que houvesse qualquer cerimônia, meus pais foram designados padrinhos extraoficiais do filho mais moço dos Valente, o Paulo.(Uma vez fui levar a Clarice e os dois meninos em casa de carro e na chegada o Paulinho perguntou: " Não quer entrar e tomar um cafézinho?"Grande surpresa. Ele mal começara a falar, era provavelmente a primeira frase inteira que dizia). Várias fotografias de Clarice, inclusive algumas que têm saído na imprensa, foram tiradas pelo meu pai durante o convívio dos dois casais naqueles anos americanos. Também houve uma designação extraoficial do meu pai como fotógrafo exclusivo de Clarice.

Eu tinha 16 anos quando chegamos a Washington e a minha primeira impressão da Clarice foi a de todo mundo: fascinação. Com sua beleza eslava, os olhos meio asiáticos, o erre carregado que dava um mistério especial à sua fala, e ao mesmo tempo com seu humor e jeito de garotona ainda desacostumada com o tamanho do próprio corpo."

Luis Fernando Veríssimo

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