Para Clara esse teria sido um dos momentos mais dolorosos de sua vida, se Barrabás não tivesse vindo misturado aos pertences de seu falecido tio. Ignorando a confusão reinante no pátio, seu instinto levou-a diretamente ao canto em que tinham posto o engradado. Dentro estava Barrabás. Era um punhado de ossinhos cobertos por pêlo de cor indefinida, cheio de falhas infectadas, um olho fechado, o outro purgando secreções purulentas, imóvel, como um cadáver, em sua própria porcaria. Apesar dessa aparência, a menina não teve dificuldade em identificá-lo.
- Um cachorrinho! - exclamou.Encarregou-se do animal, tirou-o do engradado, embalou-o contra o peito e, com cuidados de missionária, conseguiu dar-lhe água pelo focinho inchado e seco. (...) Clara converteu-se em mãe para o animal, e conseguiu reanimá-lo. Dois dias mais tarde, logo que se acalmou a tempestade da chegada do cadáver e do enterro do tio Marcos, Severo reparou no bicho peludo que sua filha levava nos braços.
- O que é isso? - perguntou.
- Barrabás - disse Clara.
- Entregue-o ao jardineiro para que se desfaça dele. Pode contagiar-nos com alguma doença - ordenou Severo.
Clara, porém, o havia adotado.
- É meu, papai. Se me tirar, juro que paro de respirar e morro.
Trecho de A Casa dos Espíritos, Isabel Allende
Sei bem o que é essa sensação de pensar que vai parar de respirar pelo amor que sente pelo aninalzinho... lindo trecho, Van!
ResponderExcluirClara é uma personagem tão interessante, nada comum!!
ResponderExcluirÉ... ela é muito inteligente e consegue tudo o que quer...
ResponderExcluirÉ linda essa parte. Clara tem muita sensibilidade, ela já me emocionou várias vezes...
ResponderExcluir