segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

As duas pontas da vida


O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das coisas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

3 comentários:

  1. Interessante como a "autocrítica burguesa" está sempre tão presente no Machado, e no Dom Casmurro ela é muito evidente!

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  2. Sou verdadeiramente apaixonada por esse homem, o que faço? hhehehe

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  3. Exatamente isso, Lu. É um fina critica a sociedade da época, a todas as mudanças daquele periodo. Machado foi o melhor nisso.Trecho MARAVILHOSO!

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