"O Reinaldo se chegou para perto de mim. Acho que olhei apara ele com que olhos, isso ele não via, não notava. Ah! ele me queria bem, digo ao Senhor. Mas graças a Deus, o que ele falou foi com a sucinta voz:
- Riobaldo, pois tenho um particular que eu careço de contar a você, e que esconder mais, não posso... Escute: eu não me chamo Reinaldo de verdade; este é um nome apelativo inventado por necessidade minha, carece de você não me perguntar porquê, tenho meus fados. A vida da gente faz sete voltas, se diz: a vida nem é da gente.
Ele falava aquilo sem rompante, sem entornos, mas antes com pressa, quem sabe se com um tico de pesar e vergonhosa suspensão.
Você era menino, eu era menino...
Atravessamos o rio na canoa, nos topamos naquele porto, desde aquele dia é que somos amigos; que era eu confirmei e ouvi:
- Pois então, o meu verdadeiro nome é Diadorim... guarda esse segredo, sempre quando sozinhos a gente estiver é de Diadorim que você deve me chamar, digo e peço, Riobaldo.
Assim eu ouvia, era tão singular; muito fiquei repetindo em minha mente as palavras, mode de me acostumar com aquilo.
Ele me deu a mão; e daquela mão eu recebia a certeza dos olhos, os que ele punha em mim, tão externos, quase triste de grandeza, deu a alma em cara.
Adivinhei o que nós dois queríamos, logo eu disse Diadorim... com uma força de afeição, ele sério sorriu, e eu gostava dele, gostava, gostava...
Aí tive o fervor de que ele carecesse de minha proteção toda a vida, eu terçando, garantindo; punindo por ele...
Diadorim me dizendo que esse era o real nome dele, foi como dissesse notícia do que em terras longas se passava.
Da razão desse encoberto nem resumi curiosidades, mas havendo o ele querer que só eu soubesse e que só eu esse nome verdadeiro pronunciasse, entendi aquele valor.
A amizade nossa, ele não queria acontecida simples, no comum sem encalço.
A amizade dele, ele me dava, e amizade dada é Amor..."
João Guimarães Rosa, in GRANDE SERTÃO: VEREDAS.
Mas, na verdade, era Maria Deodorina, o que foi descoberto por Riobaldo tarde demais.
ResponderExcluirEsse livro é único, ninguém escreve como Guimarães.
Isso mesmo... perfeito... Esse trechinho aí é um dos utilizados pelos Miguilins em Cordisburgo pra contar a história do Grande Sertão: Veredas, e eles chamam assim mesmo, de Revelação do nome :)
ResponderExcluirEsse livro é um verdadeiro oraculo, tão rico e único, diferente de tudo. Lindo trecho!!!
ResponderExcluirQue saudade de quando eu fazia parte do grupo miguilim.
ResponderExcluir