terça-feira, 22 de novembro de 2011

Uma casinha...




"Na manhã de um dia que brumava e chuviscava, parecia não acontecer coisa nenhuma. Estava-se perto fogo familiar, na cozinha, aberta, de alpendre, atrás da pequena casa.  No campo, é bom; é assim. Mamãe, ainda de roupão, mandava Maria Eva estrelar ovos com torresmos e descascar os mamões maduros. Mamãe, a mais bela, a melhor. Seus pés podiam calçar as chinelas de Pele. Seus cabelos davam um louro silencioso. Suas meninas-dos-olhos brincavam com as bonecas. Ciganinha, Pele e Brejeirinha - elas brotavam num galho. Só o Zito, este, era de fora; só primo. Meia-manhã chuvosa entre verdes: o fúfio fino borrifo, e a gente fica quase presos, alojados, na cozinha ou na casa, no centro de muitas lamas. Sempre se enxergam o barranco, o galinheiro, o cajueiro grande de variados entortamentos, um pedaço de um morro - e o longe"


Trecho de   Partida do audaz navegante, de João Guimarães Rosa, in PRIMEIRAS ESTÓRIAS. 

Um comentário:

  1. "Mamãe, a mais bela, a melhor. Seus pés podiam calçar as chinelas de Pele. Seus cabelos davam um louro silencioso." Muito lindo!

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