Na capital, o terremoto surpreendeu a Nana em sua cama, e, apesar de ali ele ter sido menos sentido do que no Sul, o susto matou-a assim mesmo. O casarão da esquina estalou como uma noz, abriram-se gretas nas paredes, e o grande lustre de pingentes de cristal da sala de jantar caiu com um clamor de mil sinos,, fazendo-se em caquinhos. Fora isso, a única coisa grave foi a morte da Nana. Quando passou o terror do primeiro momento, os empregados deram-se conta de que a anciã não fugira para a rua com os demais. Entraram para resgatá-la e a encontraram em sua cama, os olhos fora das órbitas e o pouco cabelo que lhe restava eriçado de pavor. No caos daqueles dias, não puderam fazer-lhe um enterro digno, como ela teria esperado, sendo obrigados a enterrá-la às pressas, sem discursos nem lágrimas. Nenhum dos numerosos filhos alheios que ela criara com tanto amor assistiu a seu funeral.
Isabel Allende, A Casa dos Espíritos.
Adoro os sustos que ela ficava dando na Clara!
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