5 de julho de 1977, terça
Durante estes dias não sou a mesma que escreve; sozinha na casa de Jodoigne, que nada mais me oferece do que um espaço vazio imprevisivelmente alargado pelo sol, espero; meu corpo de viagem pôs-se em movimento, meu corpo de poder deseja o dinheiro e as relações, penetro pouco a pouco na trama do passado.
Mas o que mais me faz sofrer é meu corpo de cavalo, que clama por deslocações e uma penetração real na amplitude da terra. Sem me conseguir suportar acordada, adormeço.
As férias são a época convencional das viagens; meu desejo de partir se torna, então, tão intenso que tudo, mesmo memória, me aparece sob a forma de nostalgia.
Estou a tentar dissecar o que me tem absorvido/encharcado desde o começo das férias. Começaram subitamente, quando eu esperava apenas ter todo o espaço e tempo a partir do dia 10. Augusto está ocupado, a minha mulher autónoma, umas das minhas múltiplas imagens, sente-se presa no seu papel anterior. Desejava gastar, conduzir um automóvel, possuir, dominar, dirigir-me para o verde como uma perfeição impenetrável.
Trecho de Um arco singular, Livro de horas II, de Maria Gabriela Llansol.
Gostei muito desse trecho! Amo este blog :)Parabéns,Literatassss!!
ResponderExcluirComeço HOJE a postar trechos do livro do mês! ^^
ResponderExcluirObrigada pelo carinho, Karoline! Seja sempre bem-vinda!
O blog esta maravilhoso, cada trecho lindo!
ResponderExcluir