Queridas amigas literatas e estimados leitores,
Há muito tínhamos uma seção aqui em nosso Clube das Literatas denominada 'Eu indico' onde eu, uma vez por semana, lhes apresentava uma série de canções com um tema específico. Já falamos de vozes femininas, de canções que nos marcaram em filmes, das inesquecíveis melodias brasileiras e das contribuições musicais estrangeiras de diversas partes do globo, além, é claro, das canções repletas de história e dos homens e mulheres que fazem história no mundo da música... Afinal, há quem possa dizer que a música não se confirme como uma das manifestações artísticas e mesmo literárias mais deliciosas que nos podem ser apresentadas?
Este é e sempre foi uma das minhas postagens preferidas, pois podemos explorar um pouquinho mais esse universo musical numa esfera, por que não, literária. Bom, e dessa vez, resolvi me aventurar nas canções que falam sobre o nosso maravilhoso Brasil. Temos as versões críticas, temos versões que exaltam nossa nação, clássicos e contemporâneos. Fato é que falar da realidade de nosso país é algo absolutamente necessário, e cada canção nos mostra a perspectiva de um brasileiro diferente ( ou por que não dizer, de um grupo?). Não basta dizer que nossos músicos são verdadeiros poetas, mas também é preciso (re)afirmar que muitos estão a altura dos poemas que foram escritos em homenagem ou insatisfação às terras brasileiras. Para representar cada uma das minhas escolhas, resolvi acompanhar as canções com telas de nossos pintores, para encher esta postagem de arte brasileira. Espero que gostem da viagem por nosso território. Eu, então, indico...
Nossa quinta posição é composta apenas de melodia. Mas quem se atreveria a dizer que o chorinho de Waldir Azevedo não representa a brasilidade e a poesia na alma de qualquer um que habite este país de dimensões continentais? Composta em 1947, a canção Brasileirinho já foi apreciada nos quatro cantos do mundo, pelas mãos de seu criador e de tantos outros brasileiros. Ouçam aqui.
O abaporu, de Tarsila do Amaral.
E quem é que não pensa no nosso litoral magnífico quando escuta aquele violãozinho doce, o toque do piano e uma das frases mais graciosas da nossa música? "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa, num doce balanço a caminho do mar..." Nossa quarta posição é ocupada por nada mais, nada menos que esta belíssima composição de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, de 1962. Muitos dizem que esta é a canção que define a imagem da mulher brasileira, enquanto outros afirmam que é o desenho perfeito da mulher carioca. Por um motivo ou pelo outro, a canção Garota de Ipanema é parte indissolúvel do imaginário brasileiro. Ouçam aqui.
Mulher e criança, de Cândido Portinari.
Chegando ao nosso pódio, temos a terceira posição. Chegamos aos anos 1980, uma época de muitos protestos políticos, o nosso país saindo de um regime militar de vinte anos. Muitos desses protestos se fizeram na música, com as bandas de rock nacional. Fosse no movimento dos caras pintadas, fosse entoando canções, agora não era um momento de exaltar as belezas paradisíacas do país, e sim da podridão do cenário de corrupção e opressão. Escolhi, portanto, uma das composições de Cazuza e George Israel, a conhecida canção Brasil, que incita que "mostre a sua cara". Ouçam aqui, na voz de Paula Toller.
Serenata, de Di Cavalcanti.
Em nossa segunda posição, em 1987, temos a composição famosa de Renato Russo em sua banda Legião Urbana, uma das que mais representou a crítica a política, economia e desigualdade social em nosso cenário musical. Em poucas linhas, Renato questiona a realidade da história brasileira desde seus primórdios até a situação infeliz vivida no Congresso Nacional. E com a pergunta "Que país é este?", movimentou a juventude dos anos oitenta e outros grupos da mesma época fizeram o mesmo, como foi o caso do Capital Inicial e dos Paralamas do Sucesso. E, até hoje, entoamos esta canção com o mesmo propósito. Ouçam aqui.
Retirantes, de Cândido Portinari.
Na nossa primeira posição, outra das melodias mais deliciosas da nossa cultura. Quem nunca arriscou uns passinhos de samba quando escutou essa composição de Ary Barroso, de 1939? Era uma época de guerras no mundo, e talvez por isso mesmo houvesse a necessidade de enxergarmos algo de bonito a nossa volta... Embora, hoje, seja conhecida como um dos retratos mais belos do Brasil, esta canção não fez muito sucesso em seus primeiros anos nas paradas musicais... Contudo, em 1942, quando do lançamento de uma animação da Disney Pictures, com a presença de Zé Carioca e Pato Donald, o sucesso carnavalesco se propagou mundo afora... Ao assistir ao vídeo, percebemos a clara alusão que seria suscitada, anos depois pelo lançamento da animação Rio. Estamos falando de Aquarela do Brasil... com seus conhecidos versinhos... "Brasil, meu Brasil brasileiro... meu mulato inzoneiro... Vou cantar-te nos meus versos". Confira, aqui, a canção no vídeo da Disney.
Vendedor de frutas, de Tarsila do Amaral.
Assim, encerramos o "Eu indico" desta semana. Com as faces mais diversas do nosso Brasil.
E para nos despedirmos em clima literário, uns trechinhos da Canção do exílio, de Gonçalves Dias, e de suas respectivas versões repaginadas por outros escritores... Assim como na música, na poesia o nosso país também é percebido em variadas perspectivas, basta escolher a sua, ou dosar as existentes.
E para nos despedirmos em clima literário, uns trechinhos da Canção do exílio, de Gonçalves Dias, e de suas respectivas versões repaginadas por outros escritores... Assim como na música, na poesia o nosso país também é percebido em variadas perspectivas, basta escolher a sua, ou dosar as existentes.
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá (...)
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras
Sem qu'inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá"
(Trecho de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias)
"Um sabiá na palmeira, longe.
Estas aves cantam um outro canto.
O céu cintila sobre flores úmidas.
Vozes na mata, e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe.
Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz.
(Um sabiá, na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe."
(Nova Canção do Exílio, de Carlos Drummond de Andrade)
" (...)Também adoro as palmeiras
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,
não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió."
Onde canta o curió
Não permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,
Sou tratado a pão-de-ló
Só faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.
E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,
não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió."
(Trecho de Canção do exílio às avessas, de Jô Soares)
Até a próxima!
Adorei, Dani! Ótimas escolhas e post digno de coluna em jornal! Tenta fazer o "Eu indico" toda semana, como antes!
ResponderExcluirGeeente, eu também a achei o post com super cara pra ser publicado em jornal! Adoreeei!!
ResponderExcluirE ainda tem a canção do exílio do Murilo Mendes, né? Acho que nunca um poema foi tão parodiado, hehe
Que bom que gostaram, meninas!
ResponderExcluirMel, ainda tinha várias outras versões da Canção do exílio, é porque senão ia ficar muito grande hehe!
Delicia de post e amei a seleção de imagens!!
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