"É nesse viés da arte como interventora que Jane Austen escreveu e passou a fazer parte do cânone de sua literatura nacional e da literatura ocidental. Foi uma escritora que, por meio do romance, gênero literário que desde seu surgimento “trouxe para primeiro plano a figura da mulher como protagonista” e “demonstrou um interesse sem precedentes pela natureza e posição da mulher” (VASCONCELOS, p.86), contestou (mesmo que por muitas vezes reproduzindo a ideologia de seu tempo), com sua vida e obra, a condição de invisibilidade conferida as suas iguais ou, pelo menos, produziu uma posição emergente sobre a questão de gênero.
Ainda sob influência das idéias de Richardson, e do neoclassicismo na literatura, Jane Austen, que ocupa “uma posição embaraçadora na história literária – embaraçadora porque por nenhum instante ela se acomoda às generalizações feitas sobre seus contemporâneos” (WRIGHT, 1962, p.14), apresentou em sua obra um novo tipo de herói, um novo papel para o homem, para a mulher e uma nova concepção de casamento no qual o elemento amor é acrescentado.
Na esfera do doméstico, mundo que ela bem conheceu, Jane Austen apresentou visões alternativas para suas heroínas e dramatizou a situação da mulher em seus romances. Apresentou os conflitos de uma comunidade de mulheres que viviam nesse contexto histórico de transição da aristocracia decadente para burguesia em ascensão. Na esfera do doméstico, Austen apresenta uma comunidade de mulheres ligadas pelo laço do feminino e seus conflitos numa sociedade em tempos de mudança. É bem verdade, que esses aspectos locais de sua ficção atingem a esfera do universal, principalmente no que se refere aos temas dos romances. Contudo, é na vida familiar, nos lares de seu tempo que as relações sociais aconteciam e podiam ser visualizadas e investigadas pelo leitor. Esta característica de sua obra, se considerada, pode refutar argumentos de que sua ficção fica, de certo modo, desqualificada por não conter engajamento ou “preocupações históricas e sociais” importantes. De fato, não é essa idéia de literatura como reflexo e produção da realidade, que vem do pressuposto de uma arte engajada, a aqui aceita e necessária a compreensão do trabalho ficcional de Jane Austen. Terry Eagleton nos ensina que o engajamento não é condição necessária na produção de grandes obras de arte. (EAGLETON, 1997, p.57)
Assim, além do prazer estético que seus romances proporcionam ao leitor, principalmente pelo domínio do uso da ironia, sua ficção oferece ao leitor a oportunidade de reflexão crítica sobre o contexto no qual surgem. No subtexto de sua obra - uma aparente história de amor, sofrimento, rebelião e humor - está a questão da construção da categoria de gênero naquela sociedade patriarcal.”
Trecho do artigo Jane Austen revisitada: além de histórias de amor e casamento, de Carla Alexandra Ferreira (Universidade Federal de São Carlos). Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Excelente contribuição pro nosso encontro, Dani! Muito bom o artigo! Valeu!
ResponderExcluirAdorei o artigo! Tb fiquei impressionada com a maneira que Jane Austen retrata a situação da mulher na sociedade da época!!E como Lizzy é diferente das maiorias das mocinhas de livros!!
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