"Agora, Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. O que lhe amolecia o corpo era a lembrança da mulher e dos filhos. Sem aqueles cambões pesados, não envergaria o espinhaço não, sairia dali como onça e faria uma asneira. Carregaria a espingarda e daria um tiro de pé de pau no soldado amarelo. Não. O soldado amarelo era um infeliz que nem merecia um tabefe com as costas da mão. Mataria os donos dele. Entraria num bando de cangaceiros e faria estrago nos homens que dirigiam o soldado amarelo. Não ficaria um para semente. Era a ideia que lhe fervia na cabeça. Mas havia a mulher, havia os meninos, havia a cachorrinha."
Trecho de Vidas Secas, Graciliano Ramos
Existe conforto e segurança maior do que a nossa família? É, de fato, o que nos dá juízo e nos mantém sãos.
ResponderExcluirNem me fala. Sinto uma falta enorme todos os dias.
ResponderExcluirÉ muito interessante o modo como Graciliano põe esses pensamentos de Fabiano na voz do narrador, mesmo quando Fabiano se imagina como um bicho e não como homem, seu senso de proteção está mais evidente que tudo. Mas não é apenas o instinto, próprio de um animal, é uma amostra de que esses seres humanos animalizados ainda são humanos, afinal.
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