quarta-feira, 8 de junho de 2011

Carlos e o Rio

Em Sentimento do mundo, além dos poemas serem predominantemente marcados pelas fortes marcas da guerra que assolava o mundo, as características locais também têm lugar em muitos dos poemas desse livro. Apesar de mineiro, Drummond viveu muitos anos na cidade do Rio de Janeiro, chegando a fazer parte dela de tal modo que hoje há uma estátua sua em Copacabana, no banco em que costumava se sentar. Portanto, são frequentes as referências à cidade maravilhosa em sua obra, como nos poemas abaixo, que carregam nomes de bairros em seus títulos.

Indecisão do Méier

Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?
Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,
que tortura lançam no Méier!


Inocentes do Leblon

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.



Carlos Drummond de Andrade
In: Sentimento do mundo

2 comentários:

  1. Copacabana é o bairro dos velhinhos! Fico pensando no Drummond tomando um cafezinho e depois indo ver o mar!!

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  2. Drummond, Machado, Clarice...são exemplos de escritores que falam do local e do universal numa propriedade indescritível!

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