Jane Austen era uma autora econômica. Em sua prosa, não há floreios, adjetivos desnecessários, descrições infindas da paisagem inglesa. Ela vai diretamente ao assunto, escancarando as janelas e portas da vida doméstica da Inglaterra do final do século XVIII. E, com alguma boa influência da arte do teatro, apostava no diálogo rápido e incisivo para criar as situações romanescas.
Em Orgulho e Preconceito, são memoráveis os diálogos de sua protagonista, a jovem Elizabeth Bennet, com Mr. Darcy, desde o momento em que os dois se conhecem. Outras passagens também são pura delícia para o leitor, principalmente as conversas entre Elizabeth e o irônico Mr. Bennet, pai dessa heroína autocentrada.
O talento de Austen surge inteiro nas páginas dessa obra do classicismo inglês. Seus protagonistas, Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy — como salienta Otto Maria Carpeaux —“estão entre as criaturas mais completas da literatura universal”.
Sempre que o nome de Austen vem à tona, a primeira palavra que surge é amor. Suas personagens lutam pelo amor, contra as regras sociais da época, os casamentos de conveniência, arranjados e negociados em família. Porém, curiosamente, não há escritora mais avessa ao tom meloso do que Austen: ela tem uma história de amor nas mãos, precisa resolvê-la, mas não se vê ao longo de todo o livro nenhum derramamento absurdo de lágrimas, nenhuma paixão arrebatadora. Tudo se mantém sob o controle de uma racionalidade excepcional. “Jane Austen é objetivíssima a respeito do mundo que encontrou e no que toca aos personagens que criou.”, comenta o crítico.
O pano de fundo é o da aristocracia rural, com burgueses e jovens nobres endinheirados, todos passeando e oferecendo jantares, chás e bailes. Austen para compor seu quadro, entra nos espaços domésticos, da casa burguesa aos castelos espaçosos e cheios de obras de arte dos herdeiros da nobreza. Como diz Lúcio Cardoso, a autora estuda minuciosamente “a sociedade daquele tempo, a mediocridade de seus tipos, o ridículo dos hábitos, a vaidade e a tolice de burgueses e nobres que o preconceito separava”.
Com esses e outros elementos, Austen constrói uma obra magistral. Toda uma arquitetura romanesca feita com cuidado, como se a autora inglesa trabalhasse mesmo com uma delicada peça de marfim.